Há 15 anos trabalhando com terapia ocupacional, Walkyria de Almeida tem se surpreendido com o efeito “mágico” que os tablets causam nos pacientes do GRAAC (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer) em São Paulo. A portabilidade do dispositivo -- o paciente não precisa ficar sentado em frente a um PC de mesa --, aliada a aplicativos lúdicos, conquistam imediatamente a atenção dos jovens. “As crianças que reclamavam mais das sessões agora estão mais empolgadas. Temos uma adesão maior com o uso do iPad nos exercícios”, comemora a terapeuta ocupacional.
Desde janeiro, dois tablets que foram doados por voluntários são utilizados por pacientes da instituição com dificuldades motoras -- causadas principalmente por tumores no cérebro e ossos -- em sessões de reabilitação. Nesses casos, diz Walkyria, o mínimo movimento proporcionado em jogos em que o iPad é inclinado para frente e para trás já auxilia crianças e adolescentes com hemiplegia e hemiparesia (paralisia total ou parcial de um lado do corpo).
É o caso de Gustavo Souza, 21, que ficou com movimentos do lado esquerdo do corpo prejudicados após um câncer que atingiu seu sistema nervoso central. Alguns jogos no iPad permitem que ele melhore a mobilidade no punho esquerdo, além de treinar a bilateralidade de movimentos.
Além deles, pacientes da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) usam o iPad para poderem se comunicar com familiares e médicos. “Com um toque na tela, a criança com câncer em estágio avançado pode indicar se está com dor, calor ou outro tipo de desconforto”, explica. Por mês, o grupo atende em média 50 pacientes, com idades que variam de zero a 30 anos -- quase 90% deles são do SUS (Sistema Único de Saúde).
Cerca de 30 aplicativos, entre jogos de movimento ou educativos e programas específicos para comunicação, apoiam o trabalho desenvolvido pelos profissionais de saúde do GRAAC. O objetivo dos terapeutas, destaca Walkyria, é passar a desenvolver aplicativos próprios em conjunto a pesquisadores da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e quem mais tiver interesse. “Teríamos assim mais aplicativos em língua portuguesa e adaptados à nossa cultura.”
O principal desafio, antes disso, é conseguir doações de mais tablets para atingir um total de 15 aparelhos. Além dos iPads, a instituição também usa o Wii. O console de videogame, junto com a plataforma Balance Board, ajuda pacientes que precisam recuperar o equilíbrio ou em preparação para recebimento de próteses.
Comunicação 'simples'
A Casa da Esperança, que oferece educação especializada para cerca de 500 crianças autistas em Fortaleza (CE) e Ananindeua (Pará), iniciou em janeiro um projeto piloto com tablets. O autismo afeta principalmente a capacidade de comunicação e socialização de quem sofre desse transtorno, explica o psicólogo Alexandre Costa, diretor técnico da instituição. “Os indivíduos autistas não são voltados para o mundo social e tendem a se interessar mais por objetos, não por pessoas. É nesse ponto que o tablet mostra um potencial enorme”, detalha.
Costa destaca que o grande trunfo é que a criança, sendo autista ou não, sempre quer mexer num iPad. “A interface touch é muito apelativa, remete a um gesto bem primitivo: apontar e conseguir. É uma comunicação simples.” O segundo passo, depois de “fisgar” a atenção dos pacientes com o tablet, é usar aplicativos específicos – existem mais de 50 deles na App Store – para estimular a comunicação deles.
Um desses programas é o Talk Board, que pode ser personalizado e ajuda a criança autista na organização de rotinas. “Você pode associar uma sequência de imagens a sons gravados com o próprio tablet, como acordar, tomar banho, trocar de roupa, ir à escola”, explica o psicólogo. Outros aplicativos comuns também são usados, como o Garage Band, Photogene, OmniGraffle, Comic Life, e os jogos Angry Birds, Fruits vs Ninjas e Plants vs Zombies.
Um dos casos que mostra o potencial dos ultraportáteis nesse tipo de terapia, comenta Costa, é o de um paciente que parou de falar e agora necessita de sessões para recuperar a habilidade. “Ele sempre gostou de jogos de computador. Um dos games que apresentei a ele foi o Angry Birds. Além dele, o garoto faz atividades escolares no próprio iPad. Mesmo ainda sem recuperar a fala, ele já começa a vocalizar alguns desejos e a fazer alguns gestos instrumentais.”
Isso ocorre porque, segundo o psicólogo, um canal de comunicação (no caso, o tablet) acaba estimulando todos os outros. “A comunicação por um dispositivo não inibe os outros canais, pelo contrário. Na tentativa de se comunicar, o paciente lança mão de todos os recursos”, reforça.
Fonte:
http://tecnologia.uol.com.br/ultimas-noticias/redacao/2011/07/01/tablets-ajudam-em-terapia-de-criancas-e-adolescentes-com-cancer-e-autismo.jhtm
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